terça-feira, 23 de novembro de 2010

POETAS LEIRIENSES - CARLOS EUGÉNIO



Não sei se sol, não sei se dor


Devia ser disfarce ou ser imagem
Traçado do tempo - vibração de cor -
Que apareceu de verde e azul cinzento
Com duas asas de ouro reluzentes.


E é que não sei se sol, não sei se dor
A sorrir no veludo das avencas...


E no trigo bravio dos seus gestos
A palavra cresceu e disse nada
Porém o alvor nos olhos foi amor
- mas em moldura aberta de protestos.


E quando já erguida além imagem
Repentinamente em fulgor etéreo- 
Ainda era o verde e azul cinzento
Com duas asas de ouro reluzentes
De ave recalcinada de mistério!


E na hora que decorreu na aragem
Em um forte perfume de medronhos
- Revelando prelúcida manhã
na evidência rubra da paisagem
- Que propalar em música de sonhos!
Seria dor? não sei. Seria sol?
Melhor talvez, o anseio de supor
um ciclo certo, certo em alternância:
A vida ou morte, Deus ou o diabo
- Jogo de sombra e luz, num só amor!




Carlos Eugénio in Rosa na Música



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