sábado, 29 de maio de 2010

CANTOS POÉTICOS

foto-Tiago Grácio


não sei quando desaguaram nossos olhos
neste mesmo abismo de luz. como duas aves
únicas, impulso de asas à mesma sede.


estendeste-me depois a mão, concha
de rosas a soprar ternura a soprar desejo,
pétalas pólen orvalho espinhos. caminhos


pela orla húmida na hora das marés,
em meio das urzes, mel escoado de sol,
rentes às paredes saturadas de pêndulos.


e lentamente na lassidão da madrugada
no respirar crespúsculo na fundura da noite
ou na ausência, dizemos nosso nome amor.









maria manuel (in blog com palavras ao fundo)

ERA UMA VEZ...

foto-clemantunes


Era uma vez uma Risca Azul. De um azul que não era escuro nem claro. Aquele azul de mar limpo, calmo e transparente. Não o que banha de mansinho a areia branca e fina duma praia ornada de coqueiros mas aquele mais profundo, que se observa do alto duma rocha escarpada de uma ilha perdida no oceano.

A Risca Azul não era gorda mas também não era magra. Era assim como… uma risca de tamanho… normal. Apesar de às vezes se olhar desejando ser um pouco mais fina, na maior parte do tempo a Risca Azul sentia-se bem com as suas dimensões. Até porque, coladinhas a ela, uma de cada lado, viviam a Risca Vermelha e a Risca Rosa que eram iguaizinhas nas medidas. E olhando um pouco mais longe, para ambos os lados, a Risca Azul conseguia ver outras mais, de outras Cores, todas elas com as mesmas proporções.

Assim, a Risca Azul vivia satisfeita, colada na Meia de Riscas que repousava num canto de uma gaveta.


A vida na Gaveta era uma vida como tantas outras: uns dias calmos, que ela aproveitava para descansar e reflectir (pôr as ideias em ordem) e logo outros mais agitados que, nalguns casos, poderiam até ser um verdadeiro suplício. Tudo dependia da dona da Gaveta Branca de um roupeiro de portas espelhadas…



Clementina Antunes/Maio 2010



terça-feira, 18 de maio de 2010

ANIVERSÁRIO DO ORFEÃO DE LEIRIA


foto-clemantunes

ORAÇÃO DOS FIÉIS


Era uma vez um sonho que despontou num banco de jardim.
Um pequeno grupo de leirienses lançou a semente.

-Por todos os semeadores de nobres ideias… 
                                                                      OREMOS AO SENHOR
                                                                          OUVI-NOS SENHOR

E era o mês de Maio de 1946. A semente, carinhosamente cuidada, brotou com sinais de esperança: nasceu o Orfeão de Leiria.

-Pelos cuidadores, pelos tratadores de sonhos... 
                                                                      OREMOS AO SENHOR
                                                                          OUVI-NOS SENHOR

Dezenas de homens se uniram e entoaram canções que romperam as fronteiras do Lis e difundiram gestos de paz, gestos de harmonia.

-Por todos os trabalhadores da harmonia e da paz... 
                                                                      OREMOS AO SENHOR
                                                                          OUVI-NOS SENHOR

Foram muitos os maestros que ao longo destes anos conduziram homens e mulheres no caminho da descoberta dos sons e da aprendizagem de estar em grupo. Rui Barral foi o primeiro, Guy Stoffel ajudou a nascer o Coro Misto e hoje é Pedro Miguel quem nos dirige.

- Por todos os condutores de almas e de emoções… 
                                                                      OREMOS AO SENHOR
                                                                          OUVI-NOS SENHOR

E dia a dia, a Obra cresce, multiplica-se. Sucessivos Corpos Directivos empenham-se na construção da mudança e a Casa fervilha de Vida.

-Por todos os construtores do progresso…   OREMOS AO SENHOR
                                                                          OUVI-NOS SENHOR


Mozart e Bach são só dois dos inúmeros compositores que diariamente se interpretam na nossa Casa, unindo avós e netos na comunhão de vontades na procura do conhecimento e na elevação do carácter.

-Pela união na Família…                              OREMOS AO SENHOR
                                                                          OUVI-NOS SENHOR

O Orfeão de Leiria festeja 64 anos. Todo o êxito alcançado é fruto de árduo trabalho e empenhamento de um vastíssimo número de obreiros:
Dirigentes
Coralistas
Professores
Alunos
Pais e encarregados de educação
Funcionários
Patrocinadores
Sócios
Amigos do Orfeão
(hoje lembramos especialmente Basílio Artur Pereira, o Sr. Basílio, um amigo de longa data que estará sempre connosco)

-Por todos eles e por nós aqui presentes, para que encaremos a prática do amor à Arte como uma preciosa ferramenta para o desenvolvimento pessoal e ascensão espiritual… 
                                                                      OREMOS AO SENHOR
                                                                          OUVI-NOS SENHOR


Texto de Clementina Antunes (para a missa de 16 de Maio de 2010)

terça-feira, 11 de maio de 2010

VERDES SÃO OS CAMPOS


Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.


Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.



Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;



Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.


Luís de Camões
fotos-clemantunes
Maio/10

sábado, 1 de maio de 2010

reCANTOS POÉTICOS

foto-José Branco


Princípios

Podíamos saber um pouco mais
da morte. Mas não seria isso que nos faria
ter vontade de morrer mais
depressa.

Podíamos saber um pouco mais
da vida. Talvez não precisássemos de viver
tanto, quando só o que é preciso é saber
que temos de viver.

Podíamos saber um pouco mais
do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar
de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou
amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada
sabemos do amor.

Nuno Júdice