segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O POEMA

foto-Helder J. Barreto


Até ao fim

Mas é assim o poema: construído devagar,
palavra a palavra, e mesmo verso a verso,
até ao fim. O que não sei é
como acabá-lo; ou, até, se
o poema quer acabar. Então, peço-te ajuda:
puxo o teu corpo
para o meio dele, deito-o na cama
da estrofe, dispo-o de frases
e de adjectivos até te ver,
tu,
o mais nu dos pronomes. Ficamos
assim. Para trás, palavras e versos,
e tudo o que
não é preciso dizer:
eu e tu, chamando o amor
para que o poema acabe.


Nuno Júdice

domingo, 21 de fevereiro de 2010

AO SOL

       foto-clemantunes


A tarde trouxe o sol.

Trará também os fregueses?

É melhor esperar sentada...



Clementina Antunes/10

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

PERFUME

foto-Karlusfilipe



Fica sempre um pouco de perfume
nas mãos que oferecem rosas
nas mãos que sabem ser generosas


Autor ?

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

ROSA LOBATO FARIA

foto-clemantunes



Quem me quiser há-de saber as conchas
a cantiga dos búzios e do mar.
Quem me quiser há-de saber as ondas
e a verde tentação de naufragar.


Quem me quiser há-de saber as fontes,
a laranjeira em flor, a cor do feno,
a saudade lilás que há nos poentes,
o cheiro de maçãs que há no inverno.


Quem me quiser há-de saber a chuva
que põe colares de pérolas nos ombros
há-de saber os beijos e as uvas
há-de saber as asas e os pombos.


Quem me quiser há-de saber os medos
que passam nos abismos infinitos
a nudez clamorosa dos meus dedos
o salmo penitente dos meus gritos.


Quem me quiser há-de saber a espuma
em que sou turbilhão, subitamente
- Ou então não saber coisa nenhuma
e embalar-me ao peito, simplesmente.



Rosa Lobato Faria (1932-2010)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010