foto - Bruno Abreu (Olhares) |
Ante-manhã de Novembro
Ante-manhã, ó minha ante-manhã,
Corpo igual à mágoa em que nasci,
Montes, céu, jardim e rio,
Luz seráfica perolada e doce
A cobrir história do que vivi.
Azulados arvoredos dormindo sombra,
Folhas esmaltando o chão do caminho,
Frio, escuro e passos que vão,
Metais parados, olivina humidade,
Aves despertas que findam seus sonhos
E vagas ciciam comigo sem ninho.
O outono aparece em roxo ridente,
Não sinto, não vejo - ninguém amanhece.
O galo que canta, o bronze que chama,
Os gritos ao longe nos lodos das lamas,
Tudo isso é meu, é meu dos meus anos
- Cortejo que passa num pálio de prece.
Porém o que espero começa a aparecer
- Ó vão propósito - ó mundos meus! -
Outra que fora fragrância e causa,
Madrugada amada, murmúrio aparente,
Em rosa de seda apenas me chega,
No ar da manhã na cor do adeus.
in Rosa na Música