Sabaudia-Itália
[...]«Ainda não me explicaste essa história do Bom Inverno. Estamos em Junho, porra.»
Ele encolheu os ombros e voltou a pegar no cigarro.
«Sei lá. Há anos que ouço o meu pai usar essa expressão. Presumo que só o Metzger saiba a resposta.»
«Bom, se um dia descobrires porquê, faz o favor de me elucidares.»
Tirei o guardanapo do colo, procurei o cabo da bengala debaixo da mesa e bocejei. O restaurante estava completamente vazio, e um último e solitário empregado limpava o balcão do bar com um pano molhado. «Estou a adorar a conversa, mas amanhã temos um longo dia. Vamos andando?»
Vincenzo pareceu não me ouvir.
«Ouve lá, estou a ter uma ideia bestial.»
Pousei o guardanapo usado sobre a mesa.
«As famosas últimas palavras antes de um desastre iminente.»
«Se o telefonema chegar, podias vir connosco a Sabaudia.»
Fitei-o, incrédulo.
«Não quero parecer mal-educado, mas acabámos de nos conhecer.»
Os olhos de Vincenzo brilhavam de entusiasmo.
«A sério, imagina bem as possibilidades. Somos os dois escritores, somos os dois jovens. Passar uns dias na casa de Metzger pode ser uma experiência do caraças. Que tem a vantagem de poder acontecer precisamente agora.»
«Escuta», disse, interrompendo-o bruscamente. «É a primeira vez que estou a ouvir falar dessa história toda. Do Metzger, de Sabaudia, do Bom Inverno, seja lá o que for que isso queira dizer. [...]
João Tordo in O Bom Inverno