foto - clemantunes
O sol brilhou cheio e animador e por uns dias foi Primavera. Na luz, na temperatura do ar e nos rostos dos humanos que se abriram à mudança. A vida fervilhou com um novo vigor.
Ela despiu o leve casaco, enfiou nos pés descalços os velhos chinelos amarelos e saiu para o terraço sentindo o sol acariciar os seus ombros nus. No bolso do avental tem os utensílios de que precisa mas antes de iniciar a tarefa que se propôs dá uns passos descansados inteirando-se do que é prioritário fazer.
A glicínia deixou cair quase todas as pétalas lilases das suas flores que as abelhas beijaram e exibe agora um aglomerado de brilhantes folhas verdes luminosas que fazem sombra na janela da cozinha. Embora um pouco mais atrasadas, nas buganvílias crescem já novos rebentos mas as sardinheiras, de velhas, morreram nos vasos onde agora se vê uma grande variedade de pequenas ervas.
O vermelho das flores da planta do Natal está mais baço contrastando com o brilho da verde salsa que engrossou o caule e se prepara para mostrar as suas brancas flores. Lá no canto, a velha orquídea maltratada que se recusou a florir e de raiva rebentou com o pequeno vaso (incapaz de conter as suas fortes raízes), exige a sua atenção. E nas demais floreiras as plantas reclamam pelo abandono.
Sem pressas, ela começa o trabalho e durante três dias (tantos quanto dura a Primavera do seu terraço) embrenha-se profundamente no refazer da vida. Revolve a terra libertando-a de impurezas, substitui vasos e plantas danificados, transplanta, semeia, fertiliza…
E quando, saboreando os últimos raios de sol ao fim da tarde, ela olha a obra concluída, pensa como é fantástico observar a forma como a vida se renova. Há dez anos atrás só os pombos deixavam a sua marca no chão de tijoleira com cheiro a novo mas outros habitantes vieram para ficar e renovar-se continuamente.
Com maior ou menor entusiasmo e êxito, para além das plantas ornamentais ela já plantou e colheu nabiça, pepinos, tomates, feijão verde, couves, framboesas…
Utiliza na cozinha os coentros, a hortelã e a salsa que profusamente crescem nos vasos e em cada ano que passa substitui algumas plantas introduzindo uma ou outra novidade. Desta vez foi a alfazema e o alecrim, que vieram encher de perfume selvagem o recanto dos temperos, e o pequeno pessegueiro que, nascido de um qualquer caroço jogado na terra, espera ver produzir alguns frutos.
Mas o que mais a está a entusiasmar é a grande quantidade de flores e pequenos frutos que se estão a desenvolver nas oito pequenas plantas de folhas recortadas que transplantou com imenso carinho.
E acredita que, para além dela, este ano todos os habitantes do seu terraço (os pardais, as rolas, as borboletas, os gafanhotos, as lesmas, os caracóis, as joaninhas, as lagartas, as aranhas, as formigas, as abelhas e todos quantos queiram vir) podem admirar e provar os morangos que crescem rosados nas floreiras viradas ao sol de Leiria.
Isto sim,minha amiga, é uma verdadeira QUINTA!
ResponderEliminarAgora já sei onde ir quando me falatar a salsa, coentros ou morangos! Tudo biológico e de borla, certamnete, não é verdade???
Boas colheitas amiga!
Bom fim de semana
beijinhos