na foto-Júlia, Florinda, Fernando e Henrique Pinto
Setembro/1990
Desde 1986, ano em que tive a minha primeira experiência coral, que fui dirigida por alguns bons maestros. A primeira, Paula Coimbra, ajudou-me a dar os primeiros passos mas é no Orfeão de Leiria que, desde 89 até hoje, tento chegar mais além. Lá me ensinam quase tudo o que sei da arte do Canto.
Mas cantar em grupo é muito mais que produzir sons em harmonia. Cantar num grupo tão heterogénio é, mais que tudo, uma escola de vida, uma aprendizagem continuada, um desafio constante motivador de mudanças interiores.
Analisar comportamentos de um grupo em situações variadas desde um “simples” ensaio rotineiro ao grande concerto numa majestosa catedral duma qualquer capital por esse mundo fora, onde o cansaço de centenas de quilómetros feitos de avião ou na maior parte dos casos de autocarro nos obriga a um redobrado esforço de concentração, é uma tarefa deveras emocionante.
Não tenho, como alguns que conheço, memória de elefante mas é impossível esquecer alguns “quadros” surpreendentes que se desenrolaram ao longo de quase vinte anos de digressões.
Em 1990 o Orfeão vestiu-se de igual e rumou a Espanha, França e Suíça. Em Berna pernoitámos num abrigo nuclear. Experiência inédita. Olhos surpreendidos. Noite inesquecível de sons, imagens e cheiros irrepetíveis.
Camarata para Homens, camarata para Senhoras. Beliches. Beliches??!!! Eu não durmo nisto!! Vá, traz o lençol, tenho vertigens, eu quero por baixo, quem está aqui?, é só uma noite, que lixo, quero o meu homem, eu cá estou bem, se eu soubesse que era para dormir separada não tinha vindo, até que nem é muito má a cama, quem me ajuda a descer, se eu tivesse um telefone ligava para Portugal, tem calma é só uma noite, pedia ao meu marido para me vir buscar, não tenho sabonete, aquela já ressona, nunca mais me apanham numa destas, meninas vamos dormir, Ai meu Deus!!!, que foi???, o meu vestido está amachucado como é que eu vou amanhã à recepção do Senhor Embaixador?????
Balneários amplos, fila de chuveiros, corridos, casas de banho ao lado, Eles às sete, Elas às oito, tudo ao léu, é favor fechar olhos quando for fazer xixi, ai que não aguento, esgueiro-me na penumbra, ó diabo está ali um Ele, não cumpriu horário, não vale olhar, já não se pode tomar banho em paz, saída airosa, esconde o rosto, olha p´ró lado, oh mas que cu, não vale a pena olhar, tão escanzelado, volto para a cama, logo é outro dia, outro concerto.
Clementina Antunes/09