terça-feira, 11 de agosto de 2009

UM É POUCO, DOIS É BOM, TRÊS...É DEMAIS!!!

foto-Clementina Antunes


Foi no Verão de 89. Com um grupo de amigos, fui passar três semanas a S. Miguel, essa ilha encantada. O Filipe, um amor de rapaz, organizou tudo. Tinha uma amiga na Ribeira Grande cujos pais estavam de férias no Canadá, de visita à família.A casa estava por nossa conta. Éramos oito, às vezes dez. Foi uma experiência que eu recordarei para sempre.

A deslumbrante beleza a cada canto descoberta deixou-me em estado de permanente louvor e êxtase.Fizemos as maiores maluqueiras.Nas imensas fotos que fiz, quis perpetuar a catadupa de emoções a cada dia sentida.

O amor e o desejo andavam no ar impregnando tudo com as suas fragrâncias mas cantámos todo o tempo composições que eram verdadeiras odes à amizade. Sim, porque exceptuando o Jorge, que perdeu a virgindade dentro duma minúscula tenda no relvado da Lagoa das Sete Cidades, ninguém mais "pescou" o que quer que fosse. Eu não suportei tanto gemido e fugi com a Salomé para dentro do carro. Não conseguíamos conter o riso e contudo chorávamos de emoção.É que, apesar de ter deixado a adolescência há bastantes anos, o Jorge, invisual, estava tendo uma experiência inesquecível.

Conversámos o resto da noite. De amores e desamores, de encontros e desencontros... entrámos em confidências.E quando o sol já despontava por entre a bruma da lagoa, fiquei a saber que AQUELE que ambas desejávamos, afinal, era gay.


Desrespeitando todas as proibições da Protecção Civil, tomámos repetidos banhos de cascata, ao entardecer, na Caldeira Velha. E viajámos, serpenteando pela montanha, para nos sentirmos pequenos perante o esplendor da Lagoa do Fogo. Repetidas vezes. E fomos à do Congro, atolando o carro no caminho estreito. Pena, as azáleas não estarem floridas mas a caminhada por entre a mata valeu a pena. Apesar da neblina se ter rapidamente instalado, ainda deu para vislumbrar a água de tons esverdeados. Não tanto como a das Furnas onde um dia deixámos a panela do cozido enquanto prosseguíamos na nossa descoberta.

Andámos dois dias a comer a mesma ementa pois exagerámos na quantidade dos ingredientes. No Nordeste,não suportando mais o sabor das couves, livrámo-nos do excedente e entrámos num restaurante . À entrada, imensos avisos proibitivos. Um deles chamou-nos especialmente a atenção: "não apoiar os pés nas traves das cadeiras". Patuscos, estes açorianos. Simpáticos, os donos. Para quem comia carne há tanto tempo, o peixe que nos serviram foi um verdadeiro manjar.

A vista sobre o Oceano era soberba mas disso eu já nem falo. Toda a ilha é um sonho de beleza natural impressionante. O nascer do sol, avistado na Ponta da Madrugada, foi um expectáculo maravilhoso; ver as vaquinhas pastando no prado, ao sairmos do túnel que resolvemos atravessar à luz das velas (junto a Sete Cidades) cantando composições, no mínimo estranhas, foi um quadro bucólico digno duma pintura impressionista.Mais contrastante foi ver aquele menino tímido na praia, com enormes barbatanas nos pés, mordiscando o dedo enquanto olhava para os golfinhos, ao longe, cortando o azul...




Sem comentários:

Enviar um comentário